quinta-feira, 28 de julho de 2011

UMA ANÁLISE HISTÓRICA DO PROTESTANTISMO: LUTERO


MARIA CLEIDE
ANTONIA SIMÕES






                                                             ¹Maria Cleide da Silva
² Maria Antonia da Silva Simões



RESUMO
Visa-se retratar a Reforma Protestante, evidenciando a princípio o contexto medievalista no qual a Igreja Católica Romana encontrava-se como a instituição mais importante e, por conseguinte manipulava todos os aspectos da sociedade, além de praticar um cristianismo completamente diferenciado do Cristianismo Primitivo, enriquecendo ilicitamente, vivendo na imoralidade, bem como na prática do comércio das indulgências. Ressalta-se ainda, o processo de desenvolvimento da Reforma que foi originada por Martinho Lutero, a partir de sua iniciativa ao tornar públicas suas 95 teses, a qual suas narrativas criticavam principalmente as indulgências. 
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¹Pós-Graduada em História Sócio-Cultural pela UFPI – PI, Teóloga  pelo CFMSV – MA.
² Teóloga pelo CFMSV - MA

INTRODUÇÃO
Ocorreu no século XVI uma revolução que marcou profundamente a sociedade européia ocidental, a Reforma Protestante. Evidentemente, não aconteceu instantaneamente, mas vários fatos e acontecimentos foram se formando na Idade Média, de modo que as estruturas políticas, sócio-econômicas já não suportavam mais, inclusive a estrutura religiosa. Nesse período, a Igreja católica Romana predominou, mantendo sobre seu domínio todos os aspectos da sociedade, manipulando através do seu conhecimento, onde suas afirmativas eram tidas como verdades incontestáveis, condenando no Tribunal da Inquisição, os que se mostravam contrários, situação que contribuiu para sua eclosão.
Pode-se assim, constatar que a sociedade vigente vivia um período de crise, na qual “alguns fatores explicam a necessidade de ruptura interna na vida da Igreja católica e o nascimento de novas Igrejas, tais como: a crise do Papado e da Cúria romana; Cobrança de taxas dos católicos e dos países católicos, em nível cada vez mais insuportável; Séria crise econômica atinge cavaleiros e  camponeses, vivendo numa miséria crônica; Roma interfere na vida interna das nações católicas, que cada vez mais sentiam o desejo de independência – Alemanha, Suíça, Inglaterra e França; A vida moral deixava a desejar” (HEERDT, p.128), e a venda das indulgências.
Assim, diante desse contexto, originou-se a Reforma Protestante, que logo firmou suas raízes, atravessou séculos e encontra-se consolidada em nosso cotidiano, por meio da iniciativa de Martinho Lutero - autor do Protestantismo - que buscou voltar às práticas do verdadeiro Cristianismo, iniciado por Jesus Cristo.
A INFLUÊNCIA DA IGREJA CATÓLICA NA IDADE MÉDIA
 Século V, início da Idade Média, declínio do Império Romano. Para que tivesse ocorrido sua queda, “uma das explicações mais simples é aquela segundo a qual Roma caiu tão somente devido à violência dos ataques germanos. No entanto, os bárbaros haviam estado sempre prontos a atacar Roma, durante toda sua história. A pressão dos germanos, com efeito, crescia em certas épocas, mas suas invasões jamais teriam tido êxito se não ocorressem em momentos em que Roma já se apresentava debilitada internamente” (BURNS, p.11). Problemas políticos, problemas econômicos, podem ser considerados como algumas das causas internas do declínio. Mas, o estopim, sem dúvida, foi a invasão dos povos bárbaros, efetivando o processo de transição do modo de produção escravista para o feudal, construindo uma nova sociedade mesclada pela cultura romana e pela cultura bárbara, o que de imediato assumiu a característica da ruralização. Ocorre ainda, a “substituição de uma economia monetária... por uma economia natural e de subsistência” (AQUINO, p. 08), onde o comércio era realizado à base da troca de mercadoria por mercadoria.
No feudalismo, “a terra era a medida da riqueza. Assim, a propriedade das terras ou feudos conferia aos senhores feudais poder e autoridade: o poder de controlar a produção dos bens necessários à sobrevivência; a autoridade de subjugar, na condição de servos, os homens que, nada possuindo, recebiam em arrendamento terras para cultivar” (AQUINO, p. 09-10). Porém, apesar de seu poder e de sua autoridade não eram os senhores feudais quem controlavam a sociedade, mas a Igreja católica. Esta havia se tornado a instituição mais poderosa diante de um contexto que gerava incerteza e insegurança, pois foi a única que não sofrera perdas com a invasão dos povos bárbaros, permanecendo intacta, fator que contribui para que o Cristianismo se tornasse a religião oficial do Estado feudal.
Mas “Usando de figura, diremos: o Grande Médico deixou uma receita para remediar os males de um mundo de pecados e de sofrimentos. Essa receita provou a sua eficácia maravilhosa quando foi pela primeira vez administrada, mas falsificaram-na depois: omitiram um ingrediente aqui, juntaram outro ali, até que já pouco se assemelhava à original”(SCOTT, p.124), responsabilidade centrada nas mãos da Igreja Católica, a qual falsificou os ensinos de Cristo, alterando sua essência, gerando assim, a decadência das práticas primitivas.
A Igreja católica, por dispor de grande poder econômico, por ter se tornado a maior detentora de terras, devido às doações feitas pelos fiéis, os tributos, e mais tardiamente o comércio das indulgências e da simonia, predominando político e ideologicamente, determinando a conjuntura medieval, “à medida que conseguia assegurar a ordem e a disciplina... trabalho desenvolvido pelos Doutores da Igreja: Santo Ambrósio, Santo Agostinho e São Jerônimo. Seus esforços concentraram-se na organização da disciplina e do culto, na fixação dos dogmas e da moral, a fim de fortalecer a unidade da Igreja e dar aos homens da época como que um código de ética que norteasse as suas ações, dizendo-lhes de antemão o que era certo e o que era errado, o que era Bem e o que era Mal. A Igreja assumia, assim, a tarefa de pensar por todos os homens da época... Por isso, as idéias religiosas eram colocadas em termos absolutos e inquestionáveis sob a forma de dogmas e de uma moral rígida” (AQUINO, p.363-364).
Devido sua posição, a Igreja católica, passou a dar explicações para todos os fatos e acontecimentos, onde na mentalidade do “homem medieval, o referencial de todas as coisas passou a ser o sagrado” (FRANCO JÚNIOR, p. 58). Tudo o que acontecia de bom ou ruim era tão somente Deus quem realizava. O sagrado e o profano, nesse período, eram utilizados pela Igreja para manter sua autoridade e subjugar o povo e como também, segundo algumas literaturas, o clero representava a grande maioria intelectual, controlando a educação vigente, “monopolizando praticamente o saber ler e escrever, dominando o ensino, a Igreja dirigiu as atividades culturais e formulou os princípios jurídicos e políticos que nortearam o Mundo Medieval europeu” (AQUINO, p.365-366), estendendo sua influência a todas as estruturas.
Na sociedade, segundo George Duby, a Igreja católica afirmava, que “Deus tinha distribuído tarefas específicas a cada homem; uns deviam orar pela salvação de todos, outros deviam lutar para proteger o povo; cabia aos membros do terceiro estado, de longe o mais numeroso, alimentar, com o  seu trabalho, os homens de religião e da guerra”, determinando o papel e a classe a que cada indivíduo deveria permanecer, caracterizando uma sociedade sem nenhuma possibilidade de mobilidade social, pois como era Deus quem havia distribuído, cabia a cada um a responsabilidade de cumprir com sua determinação.
 Portanto, “Por toda a Europa reinava apenas uma Igreja; se um homem não era batizado na Igreja, não era membro da sociedade. Quem quer que fosse excomungado pela Igreja perdia automaticamente seus direitos civis e políticos [...] Durante muito tempo nunca houve outra fonte de educação, além da eclesiástica. E era enorme a autoridade que a Igreja possuía, não só sobre as almas dos homens como também sobre seus negócios” (FREMANTLE, p.), mantendo uma relação de controle na sociedade.
UMA ANÁLISE HISTÓRICA DO PROTESTANTISMO: LUTERO
De todos os legados da humanidade, a palavra, falada ou escrita, é um dos mais importantes. Através da palavra, conhece-se a identidade cultural do falante, eleva-se o espírito, transforma a realidade, coloca as pessoas em posição de subjugado e fere-se como uma navalha. A habilidade do uso com as palavras revitaliza quem está em situação difícil. No meio do deserto, vitimados pela sede, fome, cansaço um grupo de pessoas está a ponto de se dar por vencido. Porém, se alguém fizer uso da palavra, objetivando encorajar, reanimar os demais, dizendo que o momento difícil será superado, porque todos são vencedores, não tenha dúvidas, as dificuldades serão realmente superadas. Mas, do mesmo modo que engrandece o espírito, a palavra pode destruí-lo, como notadamente percebemos ao percorrer a trajetória da Igreja Católica Romana, onde a maioria das pessoas na sociedade medieval encontrava-se sobre sua palavra, da qual provocava gradativamente sua degradação. Porém, como a palavra possui várias funções, e um delas é a de transformar a realidade, Martinho Lutero afirmou que: “A Salvação é por fé”, em contraposição ao que a Igreja católica pregava – a idéia de que a salvação era alcançada pelas obras e o perdão pela compra de indulgências – provocando uma verdadeira revolução na Idade Moderna.
Essa afirmativa de Lutero provocou sistematicamente um processo, que desencadeou uma mudança radical na vida cotidiana de muitos que estavam acostumados a ouvir somente as “verdades” da Igreja católica. Mudança essa, que possui raízes profundas e que vem atravessando séculos, encontrando-se vigente na atualidade. A Europa, especificamente no território que corresponde hoje, a Alemanha, na época parte do Sacro Império Romano-Germânico, serviu de cenário para o início desse processo nomeado Reforma Protestante.
Segundo Robert Nesbert, “o modo mais significativo de tratar a grande Reforma Protestante do século XVI, pelo menos do ponto de vista da História da filosofia social é explicitadamente em termos de uma revolta contra a comunidade católica, incorporada, visível, que entra em vigor por volta do século XIII” (Nesbert, p.207), antes do que se pensara. No século XIV, a Igreja católica já era criticada por Jonh Wyclif na Inglaterra e Johann Huss na Boêmia, demonstrando seu repúdio a venda de indulgência e ao luxo excessivo em que vivia o alto clero, defendendo, no entanto, a autoridade da Bíblia e sua livre interpretação pelos cristãos, motivos pelos quais foram mortos na fogueira da inquisição. Porém, a efetivação da Reforma, que incitou mudanças significativas ocorreu através de Martinho Lutero Armstrong Karen, filho de Juan Lutero e Margarita Ziegler,  que nasceu em Eisleben, uma cidade da Saxônia, no condado de Mansfield, no dia 10 de novembro de 1483. Era a princípio de família humildes, porém, seu pai por esforço próprio, posteriormente, chegou a ser um magistrado. Ele iniciou seus estudos prontamente. Em 1501, foi enviado a Universidade de Erfurt, onde passou pelos cursos de lógica e filosofia. Aos vinte anos de idade, recebeu o título de licenciado, e passou logo a ensinar a física de Aristóteles, ética e assuntos ligados à filosofia. Por indicação de seus pais, dedicou-se à lei civil, a fim de trabalhar como advogado; porém foi separado dessa atividade devido, ao andar certo dia pelos campos, ter sido lançado ao solo por um raio, enquanto seu amigo morreu ao seu lado. Este fato afetou-o de tal maneira que, sem comunicar o seu propósito a alguém, retirou-se e enclausurou-se junto à ordem dos eremitas de Santo Agostinho.
Com o passar dos tempos, diante de suas dúvidas Lutero escreveu: “Embora eu vivesse uma vida impecável como monge, sentia-me um pecador de consciência pesada diante de Deus. Também não podia acreditar que o tivesse agradado com minhas obras. Longe de amar aquele Deus justo que pune os pecadores, eu na verdade o odiava. Eu era um bom monge, e mantinha minha ordem de modo tão estrito que se algum dia um monge pudesse chegar ao paraíso pela disciplina monástica, eu seria esse monge. Todos os meus companheiros no mosteiro confirmariam isso [...]. E, no entanto minha consciência não me dava certeza, e eu sempre duvidava e dizia: ‘Não fizeste isso direito. Não foste suficientemente contrito. Deixaste isso de fora da confissão’.” (ARMSTRONG, p.279). Lutero em seu íntimo sentia-se um mero pecador, bem como sentia que realizava - suas obras - não era suficientemente favorável para que viesse herdar a salvação, além de possuir uma visão errônea da pessoa de Deus.
Lutero tinha acesso às diversas literaturas e exercia a função de copista. Segundo John Fox “ao vasculhar a biblioteca do convento dos agostinianos, encontrou acidentalmente, uma cópia da Bíblia latina que jamais havia visto antes”. Esta atraiu poderosamente a sua curiosidade; leu-a ansiosamente e sentiu-se atônito ao perceber que apenas uma pequena porção das Escrituras era ensinada ao povo. Percebeu ainda, que havia um distanciamento entre o que a Igreja católica ensinava para o que se encontrava na Bíblia – como fora falado anteriormente, uma deturpação do Cristianismo – devido a essa situação, no seu interior surgiu angústia e indignação, levando-o a uma busca pela libertação do sistema católico.
De fato o Protestantismo, se evidência no ano de 1517, em virtude das práticas da Igreja católica, que “parecia cada vez mais corrupta e exploradora, cada vez mais preocupada com a cobrança de tributos financeiros como o “chamado 'vintém de Pedro', uma arrecadação [...] sobre cada lar da cristandade” (BURNS, p. 459), para sustentar a evidente luxúria e imoralidade que, conforme crença geral se haviam transformado na própria essência do Papado, em Roma” (NESBERT, p.208), bem como da simonia, e principalmente do comércio das indulgências, que de forma generalizada visava apenas sua satisfação.
A prática da corrupção e da exploração, foram veículos que enriqueceu ilicitamente a Igreja Católica Romana, pois “muito de sua riqueza foi adquirida através do confisco de propriedades das pobres vítimas da inquisição” (HUNT, p.79), “ nome dado a um tribunal [dessa] Igreja  no século XIII para descobrir e extirpar heresias” (AZEVEDO, p. 234), os quais eram tidos por heréticos, todos aqueles que se mostravam contrários aos princípios afirmados por esta instituição, como os “huguenotes, albigenses, valdenses e outros cristão que foram massacrados, torturados e queimados às centenas de milhares. Isso ocorreu porque eles simplesmente recusaram alinhar-se com a Igreja católica, com sua corrupção, dogmas e práticas heréticas. Por razões de consciência eles tentaram seguir os ensinamentos de Cristo sem depender de Roma, e por esse crime foram amaldiçoados, caçados, aprisionados, torturados e assassinados” (HUNT p.85).  Os assassinados, nesse Tribunal, “eram exumados para serem julgados e suas propriedades eram confiscadas dos seus herdeiros pela Igreja”.Um historiador escreve: As punições da Inquisição não acabam quando as vítimas eram queimadas ou trancadas nas masmorras da Inquisição. Seus parentes eram reduzidos à miséria pela lei que determinava que todas as suas posses fossem confiscadas... “Julgamento de cadáveres (HUNT, p. 79), circunstância que revela que não somente o considerado herético, como também sua família sofria penalidades e consideravelmente a Igreja enriquecia”. A inquisição “sacrificou, desde o seu início, centenas de milhares – ou como alguns escritores asseveram – milhões de vítimas. O total nunca será conhecido até o dia em que a terra descubra o seu sangue e nunca mais cubra os seus mortos”. (SCOTT p. 170). Dessa forma, essa foi utilizada não somente para perseguir, como também para enriquecer.
Uma outra prática a ser contextualizada nesse período é da imoralidade, que ocorreu por intermédio da imposição do Celibato ao clero, que ainda hoje permanece vigente no seio católico, mas que em muitos casos não foi e não é respeitado por alguns dos que fizeram e fazem parte de sua hierarquia, sendo visível a imoralidade no meio dos que se chamam representantes de Cristo. “Muitos papas, como Sérgio III(964-911), João X (914 – 928), João XII (955-1644), Inocêncio VIII (1484 – 1492), Urbano VIII (1623 -1644) e Inocêncio (1644 -1655), assim como milhões de cardeais, bispos, arcebispos, monges e padres, através da história violaram esse voto. O celibato não apenas fez pecadores os membros do clero que caíram na prostituição, mas transformou em prostitutas aquelas com quem eles coabitaram secretamente...Pio II declarou que Roma era a “única cidade governada por bastardos” (filhos de papas e cardeais). O Historiador católico e ex-jesuíta Peter de Rosa escreve: Os papas tinham amantes de 15 anos de idade, eram culpados de incesto e perversões sexuais de toda sorte, tinham inúmeros filhos, eram assassinados em pleno ato de adultério [por maridos ciumentos que os encontravam na cama com suas esposas]” (HUNT, p. 82). “Alguns papas foram colocados no ofício por suas amantes – seis deles por prostitutas (que eram mãe e filha). Teodora de Roma (esposa de um poderoso senador romano) teve muito sucesso usando essa estratégia. Ela manipulava os políticos de Roma, gabando-se do fato de sua filha Morósia ser amante do papa Sérgio III. Conhecida como “amante de Roma”, Morósia não hesitava em ordenar assassinatos para conseguir o que ambicionava. A própria Teodora era amante de dois eclesiásticos, os quais ela conseguiu, após a morte de Sérgio III, levar em rápida sucessão ao “trono de Pedro” - os papas Anastácio III (911-913) e Lando (913-914). Quando se apaixonou por um padre de Ravena, ela também o conduziu ao trono papal. (HUNT p.108). Atualmente, a imoralidade nessa instituição, apresenta-se através da pedofilia que em muitos casos, foi estampada nos noticiários, onde seus representantes transgridem suas leis e deturpam doutrina de Cristo.
Todavia, de todas as práticas a mais criticada por Lutero foi da indulgência, que contradiz o que a Bíblia afirma acerca do perdão dos pecados, como se encontra escrito em 1 Pedro 18-19 a afirmativa de que devemos saber “que não foi mediante coisas corruptíveis, como ouro ou prata, que fomos resgatados do nosso fútil procedimento que nossos pais nos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo”.
Segundo o clero católico a indulgência, que significa a venda do perdão mediante dinheiro (ouro ou prata) e ou alguns bens, como áreas de terra, animais (coisas corruptíveis) concederia ao ser humano o perdão de seus pecados e consequentemente, este adquiriria a salvação. Essa era uma prática comum e utilizada pela a hierarquia eclesiástica. Porém é importante enfatizar que o perdão dos pecados, como se observa em 1 Pedro:18-19, se manifestou quando Jesus por livre e espontânea vontade, por amor ao ser humano foi crucificado na cruz do calvário e por fim declarou “estar consumado”, contrariando completamente o que a Igreja afirmava ser pelas indulgências. Foi exatamente a venda das indulgências que impulsionou Lutero a iniciar a Reforma, quando o Papa Leão X, em março de 1517 que tinha a incumbência de continuar a construção da Catedral de São Pedro em Roma, aprovou a concessão de indulgências gerais a todos que contribuíssem com qualquer soma em dinheiro.
                    Essa forma de exploração levou Lutero a analisar e, por conseguinte construir uma ideologia, que fixou na porta da igreja, em Wittenberg, no dia 31 de outubro, local onde residia, ou seja, as suas 95 teses, caracterizando um marco referencial para a história do Cristianismo, por tornar pública a necessidade de reforma no campo religioso, efetivando-a a partir de então. Notoriamente as teses se opunham as indulgências quando, por exemplo, afirmavam: “Tese 21. Erram, portanto, os pregadores de indulgências que afirmam que a pessoa é absolvida de toda pena e salva pelas indulgências do papa; Tese 24. Por isso, a maior parte do povo está sendo necessariamente ludibriada por essa magnífica e indistinta promessa de absolvição da pena; Tese 27. Pregam doutrina mundana os que dizem que, tão logo a moeda lançada na caixa, a alma sairá voando [do purgatório para o céu]; Tese 52. Vã é a confiança na salvação por meio de cartas de indulgência, mesmo que o comissário ou até mesmo o próprio papa desse sua alma como garantia pelas mesmas.” Todavia existiam teses que defendiam que o perdão dos pecados como afirma a Bíblia é pelo sacrifício de Cristo, como está escrito na “Tese 37”. Qualquer cristão verdadeiro, vivo ou morto, participa de todos os benefícios de Cristo e da Igreja, que são dons de  Deus, mesmo sem carta de indulgência;
A reforma se difundiu por várias áreas da Europa, levando muitos a se converterem ao protestantismo. “O luteranismo firmou-se, como era de se esperar, na Alemanha, mas a sua presença também se fez sentir, de modo vigoroso na Suécia, Noruega e Dinamarca, lugares em que se tornou a religião oficial” (LUIZETTO, p.21-22).
È interessante ressaltar, que Autores como Flávio Luizetto e Robert Nesbert afirmam em seus escritos que o protestantismo não se formou apenas por razões de ordem religiosa, mas que causas sociais, políticas e econômicas, favoreceram, portanto a sua origem, assim como sua consolidação e expansão, como, por exemplo: a fome, provocada pela baixa produtividade do solo; as epidemias, como a peste negra; as guerras, sendo a mais conhecida a dos Cem anos; assim como, o renascimento. De fato não podemos contestar, mas enfatizar que Lutero possuía conhecimento da realidade na qual se encontrava inserida a população daquele período, e acreditou que uma reforma no seio religioso poderia refletir em todas as demais instâncias. Contudo, devido sua iniciativa, não se pode indubitavelmente negar que vidas realmente foram e até hoje são transformadas, cumprindo o diz a Palavra de Deus “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”(João 8:32), promovendo  digressão na sociedade.
              
O “processo de expansão do Protestantismo nem sempre foi tranqüilo, como demonstram, as chamadas guerras religiosas ocorridas na França. Os huguenotes, como eram chamados os protestantes franceses, enfrentaram forte oposição, marcada pela intolerância religiosa e por trágicas perseguições antes de conseguirem, pelo Édito de Nantes (1598), uma relativa liberdade de culto. A solução encontrada pelos protestantes para a livre prática do culto foi a emigração em massa” (LUIZETTO, p.22).

Lutero também enfrentou oposição, visto que havia exposto as “práticas” da Igreja Católica Romana e esta como sempre procurava reprimir os que se pronunciavam. Foi pressionado a negar suas Teses, mas manteve-se firmes em suas proposições afirmando que não pregaria nada contrário às Escrituras Sagradas. Durante esse período suas idéias iam se expandindo e se firmando. “Muitos príncipes alemães o apoiaram porque desejavam libertar-se em seus domínios da influência do papa e do imperador, que era católico” (ARRUDA, p.40).
Por fim, na reunião denominada Dieta de Worms, Lutero foi questionado. Conforme Jonh Fox “Eccius, o oficial, falou do seguinte modo: “Responda agora à demanda do imperador. Manterás todos os livros que reconhecestes serem de tua autoria, ou revogarás parte dos mesmos e te humilharás? ”Ao passo que ”Martinho Lutero respondeu modesta e humildemente; porém, não desprovido de uma determinada firmeza e consciência cristã: Considero que vossos honoráveis  demandais um resposta plena, isto digo e professo tão resolutamente quanto posso, sem dúvida e nem sofisticações, que se não me convencerdes através do testemunho das Escrituras (pois não dou crédito nem ao papa e nem aos seus concílios gerais, que têm errado muitas vezes, e que têm sido contraditórios contra si mesmos), a minha consciência está tão ligada e cativa destas Escrituras que são a Palavra de Deus, que não me retrato nem posso me retratar de absolutamente nada, considerando que não é piedoso nem legítimo fazer qualquer coisa que seja contrária à minha consciência. Aqui estou e nisto descanso: nada mais tenho a dizer. Que Deus tenha misericórdia de mim!”. Porém, os príncipes consultaram entre si e exigiram uma resposta objetiva de Lutero “negativa ou afirmativa”, sendo sua resposta: “Estou atado pelas Escritura”, o que fez com que antes do término da reunião, Carlos V redigisse um édito, datado de 8 de maio, decretando que Martinho Lutero, de conformidade com a sentença do papa, fosse considerado  membro separado da Igreja, cismático e um herege obstinado e notório. Assim, Lutero promoveu então uma guerra aberta ao papa e aos bispos; e com a finalidade de conseguir que o povo menosprezasse as autoridades destes, tanto quanto fosse possível, escreveu um livro contrário à bula papal e outro intitulado “ A Ordem Episcopal”. Também publicou uma tradução do Novo Testamento no idioma alemão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nada conseguiu impedir a expansão da Reforma. Atualmente identificamos os frutos através de várias Igrejas Protestantes, como as Igrejas Batistas, Assembléias de Deus, Mundial, da Graça, etc., as quais visam viver segundo o Cristianismo Primitivo, onde se pode comprovar que vidas têm experimentado e vivido experiências sobrenaturais, como curas físicas.
Como afirma Dave Hunt “lamentamos principalmente por aqueles católicos romanos sinceros, que depositam grande confiança em sua Igreja, aceitando o que a hierarquia católica lhes diz, sem estudar a história” (HUNT, p.18), que relata os acontecimentos que dizem respeito à Igreja Católico Romana, e tão pouco a Bíblia para aprenderem a verdade da vida eterna, da cura, da libertação e que, por conseguinte revela quem realmente Deus é e o que pode realizar na vida de todo aquele que decide acreditar Nele. Lamentamos ainda, o fato dessa instituição ter atualmente, modificado suas práticas apenas em alguns aspectos. Pois, se fizermos uma análise comparativa do ontem com o hoje, mesmo que superficial, perceberemos que os dogmas que citamos continuam instituídos – com exceção do comércio das indulgências - pautados em uma doutrina que prega “libertação”, mas que mantém o homem no escravismo da prostituição, do alcoolismo, da hipocrisia, do medo das enfermidades, da idolatria (Gálatas 5:19), atos que condenam o homem ao hades, caso não se arrependam e invoquem a Jesus e continuem vivendo na política de que é bom e, portanto pelas obras será salvo.
Sem dúvida o texto bíblico que afirma “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (João 8:32), caracteriza a iniciativa de Lutero, que se posicionou contra o modelo religioso vigente por ter tomado conhecimento da Palavra de Deus. E como esta é viva e eficaz (Hebreus 4:12) e ninguém pode negá-la, pois para efeito de comprovação muitas profecias têm se cumprido, sendo facilmente comprovadas, veio à tona todas as mazela realizadas pela Igreja católica, descortinando o entendimento humano, gerando assim libertação de um sistema opressor e consequentemente, um retorno as raízes do Cristianismo.
BIBLIOGRAFIA

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